12 desejos sexuais para 2016

Ilustração Cândida Pinto – Espiga Design

*artigo originalmente publicado no blog Capazes

Novos anos são tempos de concretizações e promessas. Algumas, vãs esquecidas às golfadas,
outras que lá se vão conseguindo com novos fôlegos.
É em Janeiro que começamos cheias de motivação a cumprir com o que nos comprometemos. No
meio de uma alimentação mais saudável, o voluntariado na associação que ficou pendente desde
2000 e troca o passo, o ginásio que a partir de agora (juro, é mesmo a começar dia 1… bem,
talvez dia 2… ou 3 que é segunda-feira) vai ser semanalmente certinho, a tia que ficou por visitar,
as corridas que têm que ser menos, e o tempo para melhor desfrutar. Cobrimo-nos de resoluções,
comprometimentos, exigimos mais que ser melhores, ser perfeitas. Ano após ano, fazemos a
romaria das 12 passas e entre desejos e promessas convencemo-nos que tudo vamos conseguir
e tudo vai melhorar.
Num espirito mais complacente, proponho uma lista de resoluções que ao nosso corpo, alma,
desejo, coração e vontades dizem respeito.
Proposta de 12 desejos sexuais (feministas e em nome próprio) para 2016:
Irei investir no Auto-Erotismo, compreendendo que o universo erótico é ilimitado e livre de culpa,
dedicando tempo a procurar novas formas de enriquecer e engrandecer as minhas fantasias, a
forma como imagino e vivo comigo a minha sexualidade, permitindo pesquisa e investimento num
aculturamento através de filmes, livros, imagens. Criando um mundo meu, aberto à partilha se
assim o sentir, rico e eroticamente denso!
Vou reconhecer o meu corpo como o maior instrumento de prazer, não o qualificando nem
anulando perante medidas externas, deixando de escrutinar cada pedaço numa procura de
perfeição impossível, prescrutando em cada pedaço de pele, cada membro, cada movimento
sinais de um êxtase por acordar! Abandonar os discursos que me dizem incompleta, deformada
ou imperfeita e procurando exemplos positivos do que sou e posso ser, aceitando o que é e
abraçando possibilidades mais amplas!
Não me vou privar dos meus desejos, auto-mutilar as minhas vontades e alimentar vergonhas
com medo de um julgamento externo, nem serei eu a minha própria carrasca, procurarei alcançar
uma auto-determinação nos meus comportamentos e concretizar os prazeres possíveis e
legítimos, não me castrando por uma ideia social, religiosa ou moral do correcto, dentro dos
limites de consciência e consentimento e dando sempre o mesmo espaço de concretização,
respeitando as vontades dos envolvidos.
Perceberei limites e vontades antes de avançar, a bem de um consentimento informado, de uma
vivência total e esclarecida, criando um espaço de liberdade onde a recusa é uma possibilidade
com tanto valor como um assentimento entusiasmado. Abandonarei ideias romantizadas de que
os pensamentos se lêem, e de que a adivinhação é uma arte do romance e aprenderei a
expressar cada dia de forma melhor o que quero, desejo e posso, e a perguntar-lo sem
julgamento, pressão. O meu espaço de prazer será um espaço seguro para mim e para quem por
cá anda.
Valorizarei a cada dia mais a palavra e o gesto que me permite comunicar, comunicar, comunicar,
antes, durante e depois, de forma assertiva e entusiasmada, sem equívocos, nem más traduções,
de forma clara, encontrarei as palavras adequadas aos meus desejos, sem regras de boa
educação, mas de forma afirmativa e compreensível a quem comigo vive cada momento.
Abandonarei a validação por um agrado ao outro ou não, não me deixando constranger por
vontades, não me deixando diminuir por recusas e perceberei que nem a todos agradamos, nem
todos nos agradam a nós. E que a sexualidade mais que uma arma ou regaço de ego é uma
forma de comunicação, intimidade, fonte de relaxe e prazer, para ser partilhada e nunca para que
nos faça sentir mais ou menos perante outros por a exercermos ou não.
Largarei bucket lists, tendências e compulsões sociais em determinadas direções, procurando ver
que ao mesmo tempo que se dá espaço mediático a outras formas de prazer, de forma alguma é
obrigatório de todas gostar e a todas praticar. Terei uma visão crítica do que me é dado como
comum e normal, ou do que é preciso experimentar porque enche capas de revista. Reconhecerei

a visibilidade de todas as práticas como importante mas a diversidade dos desejos e vontades
como essencial, única para cada um de nós. O que experimentar será por minha vontade e não
porque toda a gente já o fez ou faz.
Viverei uma sexualidade mais segura, consciente onde reconheço os riscos que corro e os
minimizo, procurando barreiras de protecção adequadas a cada prática, cuidando não só da
minha saúde como dos outros, reconhecendo laços e ligações e respeitando compromissos que
me expõem, e aos outros, a riscos. Decidirei em consciência quais os melhores métodos para
uma sexualidade mais segura, recorrendo aos meios necessários. Regularmente, ou na
frequência que considerar adequada, disporei dos meios médicos para me assegurar que estou
em plena saúde.
Pararei de resistir a incorporar as tecnologias disponíveis para melhorar as minhas vivências
sexuais na mesma medida em que a incorporo noutras esferas da minha vida, usando os
acessórios, brinquedos e cosmética que me aprouverem. Perceberei que da mesma forma que
uso garfo e faca para comer melhor, um telefone para falar a distância ou um creme para me
sentir mais suave, também posso usar lubrificantes, estimulantes e vibradores para ter mais
prazer.
Reflectirei na importância que o sexo tem como forma de validação de uma relação comparado
com o bem estar, como vivemos numa sociedade que nos empurra para um determinado tipo de
práticas e vivências enquadradas num ideal de amor romântico. Aprenderei a não valorizar a
sexualidade em primazia como forma de validação de um amor perante o outro. Não implicando
que mude o sistema relacional em que me enquadro, mas pensando-o e nunca desvalorizando o
amor ou amores dos outros.
Procurarei relações igualitárias, transparentes e que me permitam evoluir e crescer enquanto
pessoa, onde a individualidade é preservada e as fronteiras e planos do colectivo são definidas
por todos com o mesmo poder e dizer. Escolhendo e contribuindo para formas de amor que me
sejam ética e emocionalmente confortáveis e certas para mim e para quem comigo nelas vive.
Atentando às balanças de poder e ao risco de uma sociedade poder refletir em relações pessoais
um sistema de desigualdade de género nela presente. Na minha casa e nos meus braços também
uma luta por uma sociedade mais justa se travará.
Reconhecerei que as vontades dos outros não serão sempre, nem têm que ser, as minhas e que
da mesma forma que não deixarei que me envergonhem dos meus desejos, não envergonharei os
outros, não querendo tal dizer que tenha que embarcar em aventuras que não me digam nada.
Terei como mote ao que a mim não me agrada: Your Kink Is Not My Kink But Your Kink Is OK!

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