Meter a Colher: às Marias Helenas* da vida

Ilustração Cândida Campos – Espiga Design

*artigo originalmente publicado no site IMPALA

Talvez quando estavas a crescer não te tenham dito que esta é uma sociedade patriarcal que, com o contributo do cristianismo, nos encurralou entre a mulher falível, Eva, e um padrão de Santidade inatingível. Que durante muitos séculos homens escreveram tratados e livros que nos remetiam à condição de inacabadas, portadoras do mal e incapazes de muito, e que tudo isso é mentira.

Que essas ideias de que nunca nos daríamos bem, que não somos cooperativas e que não nos sabemos unir foram desaprovadas por milhares de mulheres que conquistaram os direitos que usufruis e que continuam a lutar para que o amanhã seja melhor. E por isso se celebra o Dia Internacional da Mulher, e se continua a lutar, nesse e noutros dias.

Talvez toda a vida te tenham ensinado que havia as belas, recatadas e do lar e as outras. E que a tua missão era obedecer a esses cânones nunca impostos por ti, mas em ti. E que haviam as boas e obedientes e as outras, perigosas, invejosas, que só queriam aquilo que tu tinhas ou na verdade te tinha a ti, o teu homem. Mentira.

É por isso que o feminismo é importante, para te lembrar e ensinar que tu estás aqui para te cumprires a ti, que nenhuma relação é responsabilidade tua exclusiva, pois o papel de cuidadora que te impuseram e de guardiã do lar é um papel imposto duro e falso.

E a sororidade está aqui para ti, para te lembrar que serás sempre chamada de frigida ou galdéria por um homem qualquer, ou por outra mulher, ainda desacordada, nas garras do machismo, e que, sendo assim, é bom que desfrutes do teu corpo e da tua sexualidade como a ti te aprouver, e não no esforço de agarrar algo que só ilusoriamente te pertence, porque as pessoas não são coisas e sexo é prazer e não obrigação marital.

E que ser feminista é também dispor do próprio corpo, é ser autodeterminada, é lutar pelos teus direitos e mostrar os peitos numa capa de revista, se assim bem se entender, como a outra, a Emma Watson, que é atriz e feminista e se realiza como quer.

É que ser mulher é muita coisa, muito mais que ser mãe, cuidadora, esposa, filha ou irmã, muito para além da propriedade ou do substantivo agarrado a outro sujeito, é um nome próprio, para além do ter útero ou vagina, e do que ou quem quer que tenhas entre as pernas.

Ser Mulher é uma identidade de luta, e junto a ti tens muitas irmãs, para te apoiarem quando o teu parceiro te trai e te ajudarem a sair de uma relação infeliz, para quando o teu patrão te sobrecarrega e insulta te ajudarem com os limites legais do assédio moral no trabalho, para te relembrarem que feminismo é entre ajuda, cooperação e criação de autonomia e consciência para todas num mundo onde a igualdade de género ainda está longe de ser uma realidade.

E galdérias somos todas, cada vez que exercemos o nosso direito de pisar e andar por onde queremos, de tomar decisões fora do que moralmente alguém espera, quando tomamos rédeas da nossa vida.

E não te deixes confundir por aqueles que o usam como insulto. Da próxima vez, quando falares de Galdérias fala como se falasses também de ti e usa esse nome com orgulho e poder.

* O nome Maria Helena aqui é apenas utilizado como referência pelas declarações que a taróloga Maria Helena Martins teve durante o programa “Ponto de Equilíbrio” da SiC Internacional no dia 2 de Março. A minha desculpa a todas as outras portadoras deste nome se lhes causo alguma ofensa.

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