A minha Tara não é a tua, mas Tudo Bem

Ilustração Cândida Pinto – Espiga Design

*artigo originalmente publicado no blog Capazes

Das Fantasias:

Em 1995, Leintenberg e Henning, no contexto de uma revisão de literatura médica sobre fantasias sexuais, concluem que ter fantasias sexuais está positivamente relacionado com a satisfação sexual e com uma vivência positiva da sexualidade. Afirmam as fantasias como transversais aos vários tempos que atravessamos e as distinções entre géneros como ligeiras e provavelmente determinadas por factores culturais.

G. D. Wilson (1978) define uma fantasia sexual como uma história elaborada. Até pode ser um pensamento fugaz sobre alguma actividade romântica ou sexual. Pode envolver imagens bizarras ou ser bastante realista. Pode envolver memórias de eventos passados ou ser uma experiência totalmente imaginária. Pode ocorrer espontaneamente ou ser intencionalmente imaginada ou provocada por outros pensamentos, sentimentos, ou sinais sensoriais.

As fantasias sexuais podem ter lugar fora da actividade sexual, durante a masturbação solitária ou durante a actividade sexual com um/a parceiro/a.
Deste ponto de vista, a fantasia sexual refere-se a quase todas as imagens mentais que despertem algo sexual ou erótico no indivíduo. O elemento essencial de uma fantasia sexual deliberada é a capacidade de controle da imaginação sobre aquilo que acontece. A escrita do guião por parte do indivíduo, mesmo ao nível das reminiscências de eventos passados, pode ser alterada de modo a que apenas aspectos particularmente emocionantes sejam recolhidos ou reforçados.

Das Taras, Kinks e Manias:
A palavra fetichismo está, na sua origem, relacionada com a atribuição de significado mágico e simbólico a uma obra de arte ou artefacto. Liga-se por definição a partes do corpo, extensões do mesmo, pode assumir a forma de acessórios, peças de roupa ou ainda determinadas fontes de estimulação.
Nas taras e kinks inclui-se um espectro de comportamentos e preferências que fogem a uma visão mais reduzida do que podemos encontrar numa vivência normativa da sexualidade. Inclui-se o fetichismo, sadomasoquismo, role-play, bondage, voyeurismo, exibicionismo, dirty talk, citofilia e uma lista infindável de comportamentos, preferências e fantasias. Ser kink-positive é ter uma atitude perante a sexualidade humana de respeito e reconhecimentos de todas as actividades sexuais seguras, como saudáveis e prazerosas, retirando um julgamento moral associado à vergonha de todas as formas não-convencionais de expressão da sexualidade.
Uma das características mais prementes da comunidade kink é este respeito pela diversidade, e é precisamente de uma sigla muito usada nas comunidades virtuais que sai o título deste artigo: YKINMKBYKIOK. No contacto não sexual com o outro, quando o assunto é sexualidade, mais do que as nossas preferências pessoais, o que está em jogo é a noção de respeito e de aceitação da diversidade.

Das trends e modas:
Como em qualquer área, as modas e tendências invadem a nossa vida. Somos seres permeáveis e obviamente influenciáveis. É preciso reconhecer uma moda ou trend neste momento, o BDSM (Bondage, disciplina, dominação/submissão, sado/masoquismo) está em cima da mesa, nas televisões. É vivido pelas nossas estrelas pop, vestido pelas Kardashian, envolvendo toda uma estética que nos invade a casa.

Quanto às famosas 50 sombras de Grey não lhes dedico mais que uma ou duas frases, depois de toda a tinta que já fizeram correr. Um filme mal feito de um livro mal escrito, onde o perigo é a normalização e glamourização – não de práticas sexuais – mas de comportamentos abusivos numa relação, encapotados num romance cor-de-rosa. Apesar do filme ser para maiores de 18, não deverá ser essa a idade mínima de quem o vê. Num país onde a violência no namoro ainda é tão presente, várias atitudes não-sexuais na obra parecem alimentar e incentivar este ciclo de violência. Aconselho a consulta da hastag #50shadesofabuse. O resto é marketing bem feito. Se a questão se põe com a expressão de uma sexualidade de submissão, que sim, pode ser empoderante e libertadora na voz de uma mulher, nada de novo. Leiam a História de O, que em 1954 também foi um escândalo e está mais bem escrito.

Dos obrigatórios:
Não é de forma alguma obrigatório agir sobre as fantasias, mas se existe essa vontade, devemos procurar o consentimento informado dos envolvidos, a criação de uma experiência sã e segura. Enquanto Educadora Sexual Sex-positive para adultos é aqui que muitas vezes sou chamada a intervir, quer na ajuda para a comunicação da fantasia, e até da auto-aceitação e integração no repertório pessoal erótico sem culpa, até às informações e sugestões específicas necessárias para que tudo corra pelo melhor. Mas nem toda a gente tem de gostar do que mais se fala e, muitas vezes, as nuances podem ser bem diferentes. Pode ser ela que gosta de dominar, pode nenhum deles gostar de tau tau ou jogos de poder e agir mediante um guião sexual que não nos diz nada, por pressão de pares ou social.
E de forma alguma isto quer dizer que são normativos, baunilha, aborrecidos ou pouco aventureiros (sendo que destas qualificações, nenhuma é significado ou parente da outra).

Há todo um mundo para descobrir, que em vez do látex, pode envolver pêlo fofinho, chicotes, comida, jogos de poder ou outros diferentes.
Não se limitem a procurar apenas o que vos agrada. Porque se estes são os vossos gostos e preferências, óptimo! Se não… há outros circos, outros macacos e outras brincadeiras!

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