2/06 Dia Int des Trabalhadories do Sexo – por S.

Texto adaptado do discurso lido após o fim da marcha do “1° de Maio Antiautoritário”, em 2025. Escrito e Lido por S., publicado a convite de CGP neste site.

Nós, Trabalhadoras e trabalhadories do sexo, gozamos de um estatuto que não é o de trabalhador, nem de sujeito político, nem de sujeito apenas. Frequentemente chamades a ter de defender a nossa existência, somos vistes enquanto ou mulheres e pessoas exploradas sem qualquer agência, ou enquanto pessoas burguesas que se sentem empoderadas. Nunca enquanto mulheres e pessoas que tomam decisões sobre as suas vidas de acordo com as suas circunstâncias presentes. O trabalho sexual é algo que nos acontece por coação e como tal não é trabalho, dizem. Não existe trabalho empoderador! Somos todes coagides a trabalhar!

Também frequentemente apagades da história trabalhista e feminista, e, direta ou indiretamente expulsas e expulses de movimentos organizativos, sendo vistes como elementos desestabilizadores de uma ficcional união de esquerda, apenas lembrades após os nossos assassinatos, neste 2 de Junho, dia internacional da prostituta/de trabalhadories do sexo, decidimos recordar uma parte da nossa história de luta mundial.

“Historicamente e de forma precedente à do feminismo de segunda vaga, trabalhadories do sexo têm criado comunidades de ajuda mútua, tomando conta des filhes colectivamente, partilhando recursos, locais de trabalho e clientes, pagando multas, criando fundos comunitários, distribuíndo bens entre si após a morte de uma companheira, aliando-se para combater despejos e oferecer alojamento de emergência.” Portugal também é exemplo disso, numa escala maior e mais pública após o decreto de estado de emergência, durante a Covid-19, que deixou muites trabalhadories do sexo sem trabalho e recursos. 

“Esta defesa mútua também é um lugar de ação colectiva. Na década de 1950, trabalhadories do sexo fizeram parte da insurreição de Mau Mau que levou à libertação do Quénia do domínio colonial britânico.” Nas décadas de 60 e 70, como saberemos, fizeram parte dos protestos na Cafeteria de Compton e no Stonewall Inn, que deram início ao movimento de libertação LGBT nos Estados Unidos. “Em 1974, trabalhadories do sexo na Etiópia aderiram à Confederação dos Sindicatos da Etiópia e fizeram parte de ações de greve que ajudaram a derrubar o Governo.” Em Portugal sabe-se que, em 1974, logo após a revolução, um grupo de 469 trabalhadories do sexo assinou uma petição onde destacou as suas queixas relativas às condições de trabalho e de vida, tendo como objetivo a criação de um sindicato de trabalhadories do sexo. Mais nada se sabe sobre qual foi o seguimento desta história e a petição ficou entregue a uma organização abolicionista, retirando o nosso direito de acesso à nossa própria história. Considera-se, no entanto, que “o movimento europeu teve início em 1975 quando trabalhadorxs do sexo, em França, ocupavam igrejas para protestar contra a violência policial, a criminalização e a pobreza. No Reino Unido, entre 70 e 80, o movimento de trabalhadories do sexo estava profundamente interligado com a campanha “salários pelo trabalho doméstico”. Na Bolívia, em meados dos anos 2000, 35 mil trabalhadories do sexo participaram em várias ações contra violência policial e fecho de locais de trabalho. Algumas pessoas coseram os seus lábios em protesto, ameaçando também que se iriam enterrar vives se não fossem ouvides imediatamente. Outres bloquearam o trânsito e entraram em greve de fome.”

No Brasil, os movimentos de trabalhadoras do sexo e mulheres trans estiveram desde inicio ligados à prevenção e desenvolvimento de tratamento do VIH-SIDA. Assim como, desde 1979, presentes na luta contra a violência policial.

Recentemente, no México, mulheres trans trabalhadoras do sexo irromperam pelo tribunal onde um assassino de uma companheira trans tinha sido absolvido, tendo partido portas, derrubado mesas, vandalizando o edifício em protesto.

Estes são apenas alguns exemplos de uma história de combatividade extensa, e muita dela ainda está por se saber.

Em 2025, ainda somos alvo de legislações mundiais cujos propósitos são, dependendo dos modelos, a higienização do espaço público, encarceramento e reabilitação com trabalho prisional, controlo de autonomia, de mobilidade, da “capacidade” maternal e mental de mulheres, manutenção da pobreza, vulnerabilidade laboral e controlo de fronteiras. E ainda lutamos, por todo o mundo, pelo fim da criminalização e da violência, pelo direito laboral, pela autonomia, fim da repressão, vulnerabilidade e fim da deportação das de nós que são migrantes. 

Trabalho sexual é trabalho mas este slogan não deve tornar-se um pin, como se fosse tudo o que é necessário ouvir, saber ou fazer, enquanto se continua a infantilizar, a apagar, ou a instrumentalizar-nos.

Também é um slogan que deverá lembrar-se desta sua história e recusar conter desejos de aceitação e assimilação por entidades cuja legitimidade para nos aceitar não deve ser reconhecida. 

A luta é com as putas ou não será.  

 

*Citação de Revolting Prostitutes: The Fight for Sex Workers’ Rights, Molly Smith e Juno Mac, 2018

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